segunda-feira, 20 de abril de 2009

O passadiço do Amor



" Na verdade, o amor é tudo o que se avista quando se enxerga o coração do planalto de um abraço. Diante desse horizonte - macio e vasto -, há quem ache o amor uma moda acabrunhada, quem se empanturre de tudo o que permita que não se dê pela sua falta e quem pressinta que amar é ver mais longe (de cada vez que os olhos se fecham devagarinho, simplesmente). Os primeiros perdem-se nos sonhos. Os segundos olham-nos de cima (e, supostamente, exultam diante da ventura de não sonhar). Os terceiros fazem dos sonhos o passadiço do amor.
Os que se perdem nos sonhos falam da ausência do amor, timidamente, evocando o cansaço. Ou reclamam-no, simplesmente, invadindo de ira todos os seus gestos. Mas, na verdade, temem-no, de tanto o desejarem (protelando-o sempre para depois).
Os que olham de cima supõem que são as manhãs de sol que abrem persianas pelo coração. Não compreendem que a sedução é uma defesa contra os abraços. E não concebem que a segurança seja contar com o amor de alguém (em vez de estar seguro de que a pessoa com quem se conta não conte, seguramente, para mais ninguém).
Já os outros reconhecem que, quando ponderamos acerca do que gostamos numa pessoa, já não gostamos dela: reparamos nos pormenores. E que quanto mais preponderante é um amor, mais a iminência da sua perda nos revolve.Sabem, por mais que não as tenham, que há relações que iluminam a alma e que incendeiam a paixão. E que serão elas às quais chamamos amor. E que esse amor faz do que temos cá dentro uma democracia que nos torna, a todos, iguais nos sonhos e diferentes na forma de os vivermos. É por isso que, diante das falhas do amor, somos todos crianças desamparadas entre um colo e as cavalitas (como se amar com resignação fosse uma casa de chocolate que , depois de nos distrair, acaba por nos comer). E que o que dói na dor é viverem dentro de nós pessoas que, perante o nosso sofrimento, digam, por palavras nossas: "Afinal, quem és tu?"
Na verdade, amar é ver mais longe. Mais longe até do que se avista quando se enxerga o coração do planalto de um abraço. Saudar os sonhos com a inocência de quem procura neles um trilho especial. E perceber que tudo o que se sonha é pouco mais que nada ao pé das relações que iluminam a alma e que incendeiam a paixão. E que só essas fazem dos sonhos o passadiço do amor."


Eduardo sá

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1 comentário:

  1. e a vontade é apenas trpeçar e ficar sem forças para levantar...desse (deste) passadiço

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