quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Um dia alguém me disse que ser crescido é aprender com os erros e situações da vida, crescer com eles e fazer disso mais uma passagem da vida. Dentro desta lógica, revisito o meu passado como uma construção de mim própria. Sim, visito-o nas suas diversas vertentes e histórias e não é por isso que sou menos feliz. No entanto, existe uma outra coisa que permita que tal aconteça, sem vestígios de mágoas, vinganças, ressentimentos ou quaisquer outros sentimentos de repulsa. Existe o lado que quem quer crescer, sabe crescer e quer apenas entender. Melhor que isto? Nada. A paz de espírito e leveza são enormes e, mais que isso, olhar para trás com um sentimento de esperança e um sorriso no rosto é algo que poucos são capazes. Inclusive aqueles que adoram mostrar-se de uma forma que não são, quando por aí há memórias escondidas com o rabo de fora.
E foi a pensar neste passado que me deparei com a tarefa que é escrever "Agradecimentos" numa tese. Ok, acabo aqui um percurso e...é suposto agradecer a todos aqueles que, aqui e ali, me ajudaram? Ou só aqueles que me ajudam agora? Ou aqueles que nem devia mencionar mas até me apetece? Revivendo 4 pequenos anos...talvez se torne complicado. E é isso. As memórias estão mesmo em todo o lado, e o passado é quem as traz de volta. E é giro. E penoso também. Se pensar em quem já perdi no passado e poderia estar, a esta altura, com um pouco de orgulho de mim...sim. Essa é a parte que dói, e por isso aqui me fico.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Contavam-me há dias que determinada mulher tinha sido apanhada na cama com o melhor amigo do marido. A situação é um cliché da infidelidade, parece-me sempre coisa de filmes até porque não conheço nenhuma mulher que nunca o tenha feito. Mas conheço muitos homens traidores...
Os meus homens têm sido todos filhos únicos, e isto já deve ser Deus a impedir-me de ter cunhados para não cair em tentação. A tentação está sempre a um palmo da nossa cara e não só no frigorífico. Está a menos de um metro com um colega que trabalha connosco, com uma amigo em quem nunca tínhamos reparado (pelo menos daquele modo), com o personal trainer do nosso ginásio, com a rapariga simpática da lavandaria, com a gestora de conta do nosso banco. Às vezes, basta um mail, que sempre terminou 'cordialmente', 'atentamente' e, de um dia para outro, lá aparece um remate diferente - 'beijinhos'. Pode não ser nada ou o início de uma tórrida amizade. 
A tentação passou a estar muito mais ao virar da esquina , porque percebemos que não há muito a perder. Acaba-se e começa-se de novo, portanto porque não tentar ou deixarmo-nos tentar?
A minha dúvida é: como se gere uma vida assim? A mesma gestora de conta pode gerir-nos a tentação? Segurar as pontas da relação estável e marcar jantares e saídas com outros/as?
Como se vive assim?
É verdade que, não conhecendo mulheres apanhadas na cama com o melhor amigo do marido, conheço homens que fazem esta vida dupla de tentações. 
Gente que tem uma (aparente) vida boa de casado , mas que a "equilibra" com aventuras curtas (...). Normalmente essas pessoas arriscam (e muito) e essa sensação dá-lhes uma força maior.
Não vamos armar-nos em púdicos ou conservadores. Todos gostamos de atenção dos de fora, sobretudo quando, por rotina, a que vem de casa começa a falhar. E de repente lá estamos a valorizar uma pergunta de cuidado ou um elogio que afaga o ego. Eu gosto, vocês não?
Perguntava-me um amigo (a quem coloco muitas questões) se a curiosidade não é o início do flirt. Quando temos sede de perguntas é porque algo já despertou essa torrente.Pensando que as perguntas raramente se esgotam (enquanto mantemos a chama), onde é que isto vai acabar depois?
A mulher apanhada com a boca na botija provavelmente foi saciar a curiosidade. Ele, o amigalhaço, tratava-a sempre tão bem. Reparava naquilo que o marido já nem notava, tinha sempre uma palavra boa quando ela estava em baixo e um dia, um dia como os outros, foi um braço atravessado nas costas dela que a fez sentir tão bem, tão aconchegada. Do braço ao abraço foi um instante. E afinal já se conheciam há tantos anos! Só a pode condenar quem não a conhecia.
Os jardins ao abandono ficam secos e neles cresce todo o tipo de ervas daninhas (por sinal com muito viço).Nas relações pouco cuidadas é exactamente a mesma coisa: não crescendo o amor, crescem outras coisas menos boas que dão lugar a muitas desconfianças, dúvidas e, se calhar, à tal curiosidade que pode degenerar num affaire. Se for bem sucedido, pode ser outra vez o amor.
Todos têm direito a procurar uma felicidade qualquer, mesmo que pareça uma miragem. Aos poucos e poucos vamo-nos libertando de estigmas e condenações. Até porque, mais cedo ou mais tarde, algo semelhante nos bate à porta. Depois lembrar-nos-emos da amiga que criticámos, do amigo que julgámos, e lá estaremos nós próprios a viver algo semelhante. 
Tentar o amor é obrigação de todos."
Cidália Dias, Revista ns

Histórias revisitadas. O ressentimento ou o ódio são coisas que não se devem guardar e felizmente não tenho cá disso. Talvez um dia aqueles que se julgam moralistas, intocáveis e super correctos se lembrem. Talvez leiam e continuem e se lembrem que, se calhar...se calhar deixaram algures algumas ervas daninhas.





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