sábado, 28 de agosto de 2010

Hora de Almoço

(Há séculos que não lia um texto que me dissesse tanto)

Ele entra no restaurante à hora de almoço e procura-a no meio das mesas todas iguais vistas de relance. Ela levanta o braço a fazer-lhe sinal. Aproxima-se da mesa, tira o casaco, enquanto ela simula um protesto por não a ter localizado sem a sua ajuda. Dá para me reconhecer?, diz a brincar. Ele senta-se. Ali está de novo a rir-se com ela e a pensar como é bom voltar a vê-la. Há quanto tempo não nos víamos?, pergunta, pensativo. Ela faz uma expressão engraçada, um encolher de ombros, ainda há uns dias nos vimos, lembra-o, demasiados, pensa. Demasiados, diz ele. Já não se vêem com a mesma frequência de antes, quando largavam tudo o que estavam a fazer para correrem ao encontro um do outro a qualquer hora do dia. Agora só se encontram a espaços. Já não estão juntos. E no entanto, ele está a ouvi-la, a olhá-la nos olhos, e a pensar um dia vou casar contigo. Ela não pensa isso, ou prefere não pensar porque não quer ter uma desilusão.
Falam das suas vidas, dos problemas profissionais, disto e daquilo, menos do que os traz sempre de volta um ao outro. Não falam disso, mas sabem o que ambos pensam disso. Outrora estavam apaixonados e não havia nada neste mundo capaz de os impedir de se quererem, mas houve um momento em que o amor acabou por ceder às dificuldades que os afastavam. Ele teria feito tudo por ela, mas ela só queria segurança, uma vida sem complicações, e não acreditou que o amor fosse suficiente. A paixão passa, fica a razão, fria e calculista.

O empregado interrompe-os, serve os pratos que ela encomendou enquanto esperava por ele. Há uma pausa na conversa. Ele distrai-se momentaneamente, olhando em redor. O restaurante está cheio. Ao fundo, repara, uma cara conhecida da televisão almoça com a família; duas mesas ao lado, um casal acende um cigarro. O empregado retira-se, voltam a ficar sozinhos. Retomam a conversa, animados por um tema qualquer, enquanto comem com o tempo contado, com a vida pendente do que não dizem.
Saem do restaurante já atrasados para o trabalho, caminham um pouco, lado a lado, até os seus caminhos se separarem. Despedem-se, ele segura-a um segundo pela aba do casaco, como não querendo deixá-la ir. Dizem adeus, até depois. Ele vai a pensar que quer ser feliz com ela. Ela vai a pensar que quer ser feliz o tempo todo. Deixam-se, felizes pela hora que tiveram, mas ainda assim estão a afastar-se pelas razões práticas da vida que persistem em negar-lhes o que um dia os juntou.

Tiago Rebelo
Breves Histórias

sábado, 21 de agosto de 2010



Bom, mais um esticar de um tempo já muito comprido, má notícia, mas ainda assim tolerável. Está a chegar a hora de ir embora outra vez, agora uns belos dias com belas pessoas que me fazem sentir espectacularmente eu, sem olhares a reprimir. Para longe de gente conhecida, do conhecido quotidiano de alguns locais que para mim não servem para férias e perto daqueles que estão sempre connosco, independentemente de tudo o que possa vir. E depois a esperada festa de todos os anos, seguida do fim do prazo de validade. Bastantes distracções e abstracções dos dias (a)normais, que me dão alento, o que me dará ocupação até ao início dos trabalhos.
E no meio disto tudo, aquela vontade (tão grande) de te querer rever uma última vez, de me querer despedir de ti como deve de ser, de sentir um abraço como aquele que me deste quando foste internado pela primeira vez em Sta. Maria da Feira. Chega a primeira festa do Cardeal em que não estás presente, o primeiro encontro de toda a gente da aldeia onde também já não estás e as referências a ti que agora não passam de meras memórias tuas que nos ajudam a manter-te vivo. A mãe não vai estar cá, prefere assim, diz ela. Por um lado compreendo-a, mas marcarei a minha presença pois tenho a certeza que a tua vontade é que estejamos e nos ajudemos uns aos outros a suprimir a falta que se sentirá. Continuo a sentir a tua falta a cada dia que passa, principalmente quando tenho várias coisas que adoraria partilhar e discutir contigo, agora que tinha algo que verdadeiramente poderiamos conversar. Gostava simplesmente de saber a tua opinião em relação a alguns aspectos, se estás orgulhoso, o que é que achas de alguns pontos...Gostava da tua presença, uma coisa tão simples e tão impossível...
E pronto, por aqui me fico e até meados de Setembro, que deve ser quando voltarei a ter tempo...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Acho que hoje foi um dia de azar, claramente. Mas, em contradição, estou inquietantemente feliz. Bateram-me no carro, mas até era o lado que precisava de ser pintado. É quarta-feira e o prazo de validade daquele tempo todo está a acabar, e o resto está ainda para começar. E ainda vai o Verão a meio. Mensagens, telefonemas, palavras, risos, fotos e lembranças..e um grande sorriso estampado na cara, com cada palavra diferente todos os dias e toda a entrega que nunca esperei. E pronto, hora de fazer a mala outra vez e apanhar carradas de vitamina D e aproveitar, muito. Aguardo, muito ansiosa. E já comecei a contagem decrescente que prometi. E apetecem-me mil coisas, mas estou num estado tão estúpido que não consigo dizer nada de jeito. Vou-me limitar a fazer a mala.

"Preciso de estar contigo."

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Depois de uma semana muito bem passada e com muito para contar em Lanzarote, estou de volta aos dias normais, ainda que tivesse bastante vontade de ficar por lá mais uns dias..As férias vão a meio e ainda há muito para passear e viver, e ainda bem. Começo a estabelecer prioridades e esclarecer ideias na minha cabeça, deixando a ilusão de quem não importa e não se importa (comigo, connosco, contigo, bla bla bla...). Depois de balançar um bocado e até ficar desapontada, sem dúvida que hoje e nos últimos dias tive uma grande recompensa, o que caiu tãããããããão bem, capaz de levantar o mau humor que, às vezes, me ataca sem razão aparente. Talvez sejam as saudades, se bem que é coisa que não sei se deveria sentir. Aliás, coisa que fujo de sentir, se calhar porque sou a Marta fria ou outros adjectivos com os quais outro alguém, em tempos remotos, me apelidava numa fraca tentativa de me derrubar. E pronto, mais de metade já lá vai e um fim mais próximo que o esperado pode vir mas, mesmo que não venha, o fim estabelecido virá dentro de pouco tempo, menos do que o que já esperámos. Aí, poder-nos-emos vingar e deixar para trás o resto. Por agora vou queimando os dias a matar saudades e a ter o melhor que a vida traz com aquelas pessoas tão especiais.