Não te Deixarei Morrer, David Crockett
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Primeiro Dia
Não te Deixarei Morrer, David Crockett
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Em tempo de estreias..
PS: Falando numa estreia, vale a pena ver ' O estranho caso de Benjamin Button.'. Sem dúvida uma grande história e um filme muito bem concebido, na minha opinião.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Sabor Azedo e Esperança
Dói-me a cabeça. Hoje foi mais um dia a estudar Psicologia da Educação ( Bandura, Vygostky, Bruner e afins). Vejo a fogueira arder na lareira, a gata a dormir em frente a ela. Paira um silêncio no ar, o meu pai está com febre e a minha mãe está a fazer-lhe companhia. Olho para as fotos que estão por aqui na sala (sim, aquelas fotos que toda a gente tem) e há um imenso vazio que me atinge. Vejo nelas o meu pai com uns 15 kg a mais (O cancro é a proliferação anormal de células. Células essas que existem neste momento no organismo dele e que o atingem de várias formas), permaneço meio triste, meio incrédula e escrevo sem perceber bem porquê. Simplesmente porque cada vez mais constato que a vida dá muitas voltas, que não somos todos imortais e que há pessoas que, por vezes, estamos destinados a ver partir mais cedo que o que esperávamos (como a esperança é a última a morrer, espero mesmo que não passem de meros enganos estas palavras). Lembro-me da incrível rispidez com que ao início respondia ‘ Se fosse a minha mãe eu estava pior.’. Não quero imaginar o que iria sentir o meu pai se me ouvisse dizer isto. Porém, não era mentira nenhuma, era o que sentia e como costumo dizer ‘só retribuímos aquilo que nos dão’ e sem dúvida que aquela resposta era, naquele momento, a minha única retribuição. Já lá vão quase seis meses. Seis meses de desespero, seis meses de incertezas, seis meses de altos e baixos, seis meses de ver uma pessoa alegre, viva e comunicativa tornar-se numa pessoa pensativa, isolada, triste. Quando li sobre o assunto e vi que muitas pessoas não passam do meio ano e depois do diagnóstico dos médicos pensei “Será que é hoje? Será que é amanhã? Será que um dia acordo e já não vais estar cá?”. A cada dia que passa custa mais sorrir e fingir que está tudo bem, a cada dia que passa me ligo mais a ele, a cada dia que passa dói um pouco mais olhar e ver como a vida pode ter um sabor azedo. As incertezas permanecem, mas enquanto não há novas notícias (boas ou más, virão) resta-nos ter esperança e lutar, lutar todos os dias. (E rezar para que as lágrimas por todos derramadas reguem a esperança de uma cura.)
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Pobres como nós
P. é uma mulher bonita. Alta, esguia, de gestos delicados. As fotografias que tem em sua casa mostram um rosto mais cheio, uns olhos mais felizes. "Perdi dez quilos nos últimos oito meses", assume. "Não tinha o que comer." Tem 38 anos, um filho de 12,o 12º ano completo e nunca tinha trabalhado na vida. "O meu marido ganhava bastante dinheiro, era ele que tomava conta de mim. Eu geria a casa, a educação do miúdo, as compras. Vivíamos bem, não éramos ricos mas também não passávamos dificuldades.Mas um dia decidi separar-me do meu companheiro, a nossa relação era muito má. Fiquei com o meu filho e descobri as dívidas do meu marido. Não fiquei com mais nada." Tentou uma imensidade de empregos e só conseguiu arranjar um - como funcionária de limpeza no Hospital de São João. Salário: 430€, mensais. A casa onde vivia serviu para saldar créditos, conseguiu alugar um cubículo de paredes esfareladas e janelas partidas, sem casa de banho, por cem euros. O resto vai para o passe social, água, luz, gás e para a escola do filho. "Habituei-me, logo a seguir à separação a ir comendo pouco." Se fazia sopa para o rapaz, não lhe tocava. Cozinhava um bife ou uma perna de frango para o miúdo, ao domingo. Para ela, um caldo de cebola ou o que o miúdo havia deixado de sobra no prato. "Depois comecei a comer dia sim, dia não, a ver se me habituava. Desmaiava muitas vezes, quando estava a trabalhar. E um dia perdi finalmente a vergonha. Entrei no refeitório de Rio Tinto e pedi comida." Desde então vai la todos os dias, recolher o almoço. Não come ali, não se quer misturar. E também porque, da refeição que lhe dão, ela consegue inventar três. Um almoço para ela, que o filho tem alimento na escola, e dois jantares à noitinha. Encostada à porta de casa, tentando ignorar o frio, P. pára de falar para desatar num pranto desgraçado. "Ontem comecei a comer o almoço e soube-me tão bem que me apeteceu comê-lo todo. Mas eu não podia, eu não posso. O que hei-de fazer á minha vida?" "
Este é um excerto de um artigo da revista Notícias Magazine, de 18 de Janeiro 2009. Esta é a história do nosso vizinho do lado.Esta é a situação que atinge todos: os da classe média, os que estão na geração em idade activa, os que têm mais aptidões académicas ou maiores expectativas de conforto. Os novos casos que surgem não estão nos escalões mais excluídos da sociedade. Já se contam por 300 mil os portugueses que não se conseguem alimentar. É uma notícia que incomoda, que parece que não existe. Porém é a nossa realidade, e parte do nosso dever ajudar quem pudermos, porque um dia podemos ser nós ou alguém que nos seja próximo. Como diriam na RFM, no fim do momento religioso: "Vale a pena pensar nisto."
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Despensa dos Sonhos
Suponho que, sempre que não podemos dizer, com simplicidade, "Abraça-me e não me perguntes porquê", há uma parte de nós que se esgueira para a despensa dos sonhos. E por lá fica, num "já não sei se sei sentir". É aí que, sem ser fácil de entender, uma tristeza nos revolve, devagarinho. Não tanto pela dor com que magoa, mas pela vida de que nos separa. Não sei se o grande privilégio dos sonhos será o de nos antecipar o futuro. Na verdade, imagino que eles sirvam para deixar que ele aconteça. (...)
O mais enigmático dos sonhos não passa por viverem guardados numa despensa. Mas por só descobrirmos que ele existe quando alguém, abraçando-nos sem perguntar porquê, os descobre e os solta. E dessa forma nos sossega, quando mostra que o grande privilégio dos sonhos não passa por antecipar o futuro mas para deixar que ele aconteça."
Eduardo Sá
em "Más maneiras de sermos bons pais."
domingo, 11 de janeiro de 2009
Coisas simples
Coisas simples da vida que o são sempre, ao pé de uma pessoa que usa uma máscara. 24 não será mais que um número banal, 'quantos queres' um jogo de criança e Fonfon o nome de uma música. Isso mesmo, coisas simples da vida que me fazem crer que às vezes podemos ser um bocadinho crianças, longe de preocupações, com uma mãe que nos passa a mão nos caracóis e diz 'Tudo fica, tudo passa. Depende de quem passa e de quem quer ficar.' Belo trocadilho. São as coisas simples da vida guardadas numa caixa de sapatos, forrada de papéis de jornal, chamada 'Caixinha das memórias'. É a Marta, aquela que muito poucos compreendem e muito poucos conhecem e sabem com o que realmente de bom contar.