quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sabor Azedo e Esperança


Dói-me a cabeça. Hoje foi mais um dia a estudar Psicologia da Educação ( Bandura, Vygostky, Bruner e afins). Vejo a fogueira arder na lareira, a gata a dormir em frente a ela. Paira um silêncio no ar, o meu pai está com febre e a minha mãe está a fazer-lhe companhia. Olho para as fotos que estão por aqui na sala (sim, aquelas fotos que toda a gente tem) e há um imenso vazio que me atinge. Vejo nelas o meu pai com uns 15 kg a mais (O cancro é a proliferação anormal de células. Células essas que existem neste momento no organismo dele e que o atingem de várias formas), permaneço meio triste, meio incrédula e escrevo sem perceber bem porquê. Simplesmente porque cada vez mais constato que a vida dá muitas voltas, que não somos todos imortais e que há pessoas que, por vezes, estamos destinados a ver partir mais cedo que o que esperávamos (como a esperança é a última a morrer, espero mesmo que não passem de meros enganos estas palavras). Lembro-me da incrível rispidez com que ao início respondia ‘ Se fosse a minha mãe eu estava pior.’. Não quero imaginar o que iria sentir o meu pai se me ouvisse dizer isto. Porém, não era mentira nenhuma, era o que sentia e como costumo dizer ‘só retribuímos aquilo que nos dão’ e sem dúvida que aquela resposta era, naquele momento, a minha única retribuição. Já lá vão quase seis meses. Seis meses de desespero, seis meses de incertezas, seis meses de altos e baixos, seis meses de ver uma pessoa alegre, viva e comunicativa tornar-se numa pessoa pensativa, isolada, triste. Quando li sobre o assunto e vi que muitas pessoas não passam do meio ano e depois do diagnóstico dos médicos pensei “Será que é hoje? Será que é amanhã? Será que um dia acordo e já não vais estar cá?”. A cada dia que passa custa mais sorrir e fingir que está tudo bem, a cada dia que passa me ligo mais a ele, a cada dia que passa dói um pouco mais olhar e ver como a vida pode ter um sabor azedo. As incertezas permanecem, mas enquanto não há novas notícias (boas ou más, virão) resta-nos ter esperança e lutar, lutar todos os dias. (E rezar para que as lágrimas por todos derramadas reguem a esperança de uma cura.)

Marta, 20 de Janeiro 2009

5 comentários:

  1. Todos nós passamos por fases más na vida, fases de muita duvida e incerteza, e muita dor e sofrimento... pensamos mesmo que há coisas na vida que nunca chegam a nossa casa, que nunca batem á nossa porta. Isso aconteceu-me, quando tinha apenas 8 anos, em que sentia que a minha familia era feliz e que jamais os meus pais seriam como outros e se separavam... um ano depois, eu tinha a separação dos meus pais á minha frente!!!
    Nestas alturas temos de pensar que se outros lutam e vencem, nós também conseguimos porque não somos melhores nem piores...
    Todos os dias devemos acordar com um sorriso na cara e mostrar-nos fortes para dar força a quem tem a maior luta pela frente...
    Acredita que é possivel que num amanha proximo ele volte a ser a pessoa que sempre foi. Se acreditares das-lhe força para ele lutar e não deixar de acreditar também. Muitas vezes preferimos não falar e esconder tudo o que nos vai ca dentro, para não magoar nem ferir, nem lembrar... mas vale sempre a pena falar... vale sempre a pena lutar!
    O caso de cancro que tenho na familia, dura a 7meses, com sessões de quimioterapia e com inicio agr de radioterapia... muito bem sucedido! Não foi facil mas td está bem...
    Acredita e nunca desistas...

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  2. seis meses.
    sempre tivemos a esperança, sempre tivemos a força e o acreditar. os braços não se vão baixar e mesmo na vida injusta há razões para sorrir. Está será mais uma.
    já lá vão seis (que tanto parecem muito como parecem pouco).
    os dias dificeis vão passar e a lareira irá voltar a aquecer.

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  3. Não fazia a mínima ideia. Tens de ser forte como sempre o foste até ao momento e esperar pelo melhor. Ele virá.

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  4. oi amiga... nao sabia de nada...
    nao consigo imaginar o que tens passado mas acredito que nao seja nada facil. tens que acreditar, ter esperança...nós nao costumamos estar muito tempo juntas mas quando precisares ja sabes... estou aqui para o que precisares, nem que seja para um desabafo, uma lagrima...
    tens de ter muita força...

    beijao e tudo de bom....

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  5. Sei o que sentes querida.
    Já passei por várias situações assim, Duas delas bastante complicados e com final menos feliz.
    Mas sei que tudo se vai resolver e que tu és suficientemente forte pra uma coisa desta, agora ir abaixo é que não podes.
    Beijinho.

    Carolina

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